Flávio Bolsonaro sugere uso da força caso STF rejeite eventual indulto a seu pai
“Ele [Bolsonaro] vai querer apoiar alguém que não apenas proponha anistia ou indulto, mas que assegure sua aplicação”, declarou o senador.
Segundo Flávio, caso o STF reaja a um indulto alegando inconstitucionalidade, será necessário que o futuro presidente tenha disposição para garantir que a decisão prevaleça — ainda que isso implique um confronto direto entre os Poderes. Ele reconheceu a gravidade dessa possibilidade: “É uma hipótese muito ruim, porque envolve o uso da força e interfere diretamente na harmonia entre os Poderes. É tudo o que se quer evitar”.
Flávio tentou minimizar o tom de suas falas, alegando tratar-se apenas de uma “análise de cenário”, mas reafirmou que o compromisso com a anistia ou indulto será exigência para qualquer candidato que deseje o apoio de seu pai.
Na visão do senador, a solução mais adequada e pacífica seria a aprovação de uma anistia pelo Congresso Nacional, em consenso com o Supremo.
Juristas reagem com preocupação às declarações
As declarações de Flávio Bolsonaro geraram reações de repúdio no meio jurídico. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que o pronunciamento do senador reforça a importância de respeitar as decisões do STF e punir os responsáveis por ações golpistas.
“É mais um episódio que ultrapassa todos os limites aceitáveis. Espero que seja apenas desespero. O Congresso precisa compreender a urgência de seguir a Constituição”, disse Kakay. Ele também criticou o fato de as investigações ainda não terem atingido financiadores e políticos, o que, em sua avaliação, alimenta a sensação de impunidade.
Já Marco Aurélio de Carvalho, integrante do Grupo Prerrogativas, classificou a entrevista como uma afronta à democracia, e sugeriu que Flávio seja levado ao Conselho de Ética do Senado. “É inaceitável que um senador utilize um dos maiores veículos de imprensa do país para ameaçar instituições como o STF. Isso é gravíssimo”, declarou.
Carvalho também destacou a importância da responsabilização dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, ressaltando o caráter pedagógico das punições. “Mesmo quem não defende um sistema penal punitivista deve reconhecer que, nesse caso, a punição é fundamental para evitar novas tentativas de ruptura institucional”, completou.
Bolsonaro convoca novo ato com foco na anistia
Em meio às discussões, Jair Bolsonaro convocou uma nova manifestação para o dia 29 de junho, na Avenida Paulista. O evento terá como uma de suas pautas centrais justamente a anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos.
Em contraste com o tom moderado adotado durante depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro publicou um vídeo exaltado convocando seus apoiadores. Nele, o ex-presidente afirma: “Se algo covarde acontecer comigo, sigam lutando. Vivo ou preso, serei um problema para eles”. A gravação termina com uma indireta ao magistrado: “Não será uma única pessoa que irá nos vencer”.